sexta-feira, novembro 10, 2006

Alfrocheiro

por João Paulo Martins

Numa época em que muito se fala de castas, os nomes mais sonantes – como a Touriga ou o Aragonês - acabam por fazer esquecer as outras. E será que essas outras castas merecem "tratamento varietal?"

Foi quando começou a febre dos vinhos varietais que os consumidores se começaram a familiarizar com os nomes das castas.

Até há uns dez anos atrás falar a alguém na casta Tinto Cão ou Bastardo ou Jaen ou Alfrocheiro era a mesma coisa que pregar no deserto. Ninguém sabia, nem sequer ligava, às castas de que os vinhos eram feitos e muito menos aos respectivos nomes.

Convenhamos que a vida não estava fácil mesmo para aqueles que se interessassem pela matéria, uma vez que a sinonímia das castas era, e é, uma autêntica charada, um novelo que não há maneira de estar desfeito.

Houve uma certa uniformização com uma nova Portaria que listou as castas com os nomes que deverão passar oficialmente a ter, mas isso não resolveu o grave problema da casta Carrega Burros (!) e o urgente problema da casta Benfica (!) que - como se imagina - ninguém sabe o que são ou que nome oficial deverão ter.

O Alfrocheiro é uma casta mais viajada pois encontramo-la desde o Douro até ao Alentejo mas não será muito antiga em Portugal já que, com este nome, não aparece nos registos.

No Dão surge só com a reconstrução das vinhas após a filoxera e poderá ter sido trazida de fora nessa altura, como sugere o Prof. Virgílio Loureiro.

Para adensar o mistério diga-se que por comparação com a colecção ampleográfica francesa, não foi possível detectar nenhuma casta semelhante ao Alfrocheiro.

Rico de aromas, vivo enquanto jovem, o Alfrocheiro resiste mal ao tempo e, como varietal, não deve ser vinho de guarda.

Pela gama de aromas que apresenta pode funcionar bem se vinificado para espumante.

in "Revista de Vinhos", nº 144, Novembro de 2001

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